E se… no universo primordial houvessem camadas de LCDs (Liquid-Crystal displays) tais como os que temos nas nossas televisões?
Exótico? Talvez, mas as mais recentes análises à polarização dos fotões do CMB (radiação cósmica de fundo) parecem indicar que assim seja artigo. Nomeadamente, as análises concluíram com bastante confiança que o eixo de polarização dos fotões foi rodado (entre o momento da recombinação do universo e os dias de hoje) por um ângulo de 0.34 graus levando por isso a uma correlação cruzada entre os chamados modos E e B do CMB (que de outra forma não estariam correlacionados). Este fenómenos é típico de materiais birefringentes como os LCDs, onde o mesmo acontece quando a luz os atravessa.
Os próximos passos nesta investigação são prometedores. Por um lado, é preciso fazer mais testes independentes para realmente estabelecer que o sinal é primordial e não um erro sistemático experimental. Felizmente, os testes vão aparecer em breve. Por exemplo, o Atacama Cosmology Telescope (ACT), um telescópio dedicado à medição do CMB, irá fazer medições independentes e talvez apresente resultados ainda este ano.
Se a resposta for positiva, isto será um passo gigante no nosso conhecimento e dar-nos-à uma nova e inesperada janela para o universo primordial. O passo seguinte será responder à questão fundamental: que LCDs cósmicos são estes que poderemos estar a medir? Para já há duas propostas que sobressaem na literatura. A primeira hipótese propõe que a energia escura que permeia o universo atual é feita de um campo, chamado axião, que se comporta como um LCD e que provoca a rotação da polarização (artigo). A segunda hipótese, na qual também estive envolvido, é de que tenha existido uma rede de defeitos topológicos, como as cordas cósmicas ou as paredes de domínio, de dimensões cosmológicas e que cause birefringência nos fotões que a cruzam (artigo 1, artigo 2). Felizmente, com os dados futuros vamos também conseguir clarificar qual dos dois modelos é responsável pelo sinal.
Mantenham-se atentos!