“Trabalhemos ao menos – nós, os novos – por perturbar as almas, por desorientar os espíritos. Cultivemos em nós próprios a desintegração mental como uma flor de preço. Construamos uma anarquia portuguesa, ‘escrupelizemos’ no doentio e no dissolvente. É a nossa missão a par de ser a mais civilizada e a mais moderna, será também a mais moral e a mais patriótica”. (Fernando Pessoa, “A Doença da Disciplina” in “Idéias Políticas” (1915))
Vamos começar. Siguemos o conselho de Pessoa e perturbemos as almas e desorientemos os espíritos. Não é preciso deitar tudo abaixo e fazer de novo. Quem escreve isto do conforto do sofá não tem direito a estes laivos revolucionários.
Se calhar é melhor optarmos por um recomeço. Aprimorar. Sim, aprimorar talvez seja a palavra mais adequada. Não é preciso deitar tudo a baixo, talvez só uns pequenos recantos da sociedade e da classe politica que transmitem alguma insalubridade.
Mas atenção, cuidado com os telhados de vidro. Não atiremos a primeira pedra sem pensar se num contexto semelhante não seríamos levados a atuar da mesma forma. Estou seguro que em muitos casos sim. Daí que o que temos realmente de analisar em detalhe é esse contexto, essa tradição, essa multitude de dinâmicas e caminhos obtusos que selecciona as hierarquias que temos e que as leva a tomar as decisões que tomam.
Uma sociedade com bases tão sólidas como a nossa, que vivenciou diversos regimes sem grandes oscilações sociais (comparativamente a outros países europeus) é provavelmente a arena mais adequada para dar um passo em frente e (r)evolucionar esta política que se tornou standard nas sociedades ocidentais. É urgente que isso aconteça para, entre outras coisas, mostrar às pessoas que o populismo não é o caminho a seguir.
Vamos a isso?